quinta-feira, 17 de julho de 2025

Escritor em Foco - Entrevista Nilza Amélia a "Madrinha da Academia de Letras de Itaquaquecetuba "


"Só se pode transformar a dor e a tristeza em arte e beleza se tivermos a sensibilidade de valorização e empatia." Nilza Amélia


17 de Julho, 2025
Por Deise do Vale 


Nilza Amélia é educadora, escritora e madrinha fundadora da Academia de Letras de Itaquaquecetuba (ALI). Natural do Piauí e radicada em São Paulo, sua trajetória de superação pessoal e acadêmica é marcada por uma fé inabalável e dedicação à educação. Licenciada em Letras e Pedagogia, com especialização em Docência do Ensino Superior, atuou em diversas instituições públicas e privadas, incluindo a UFPI, UESPI e atualmente a Univesp.

Criadora da Oficina de Escritores durante a pandemia, foi peça fundamental na fundação da ALI. Reconhecida por seu engajamento cultural e social, é autora de diversas obras infantis e infantojuvenis que abordam temas como inclusão, valores, diversidade e espiritualidade. Sua produção literária reflete sensibilidade, compromisso com a transformação social e profundo respeito à fé cristã, que inspira também seus projetos missionários e educacionais.

Nilza é daquelas mulheres raras que transformam dor em poesia, desafios em oportunidades e palavras em instrumentos de cura. Seu exemplo ecoa não apenas nas salas de aula ou nas páginas dos livros, mas nos corações de todos que cruzam seu caminho. Com coragem, empatia e um amor profundo pela palavra, ela nos ensina que a literatura pode, sim, ser um ato de fé — e que escrever é, muitas vezes, uma forma de orar com a alma desperta.


1. Para início de nossa conversa, poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória pessoal e formação, e como esses elementos influenciaram sua atuação atual?

  Minha trajetória pessoal a considero um milagre de Deus, repleta de desafios e conquistas surpreendentes. Pais alfabetizados funcionais migraram do Piauí para São Paulo com suas duas filhas. Meu pai teve dificuldades em concretizar minha matrícula escolar devido à minha saúde precária, gagueira e hiperatividade. Paradoxalmente, foi nesse contexto desafiador que encontrei uma educadora que acreditou em minhas habilidades emocionais, cognitivas e psicológicas, investindo no meu potencial de aprendizado e na superação de dificuldades. 

Obtive êxito, tornando-me uma das melhores estudantes e seguindo o exemplo dessa educadora excepcional que mqrcou minha trajetória. 

Concluí duas licenciaturas (Letras e Pedagogia) e uma especialização lato sensu em Docência do Ensino Superior, dentre outras. Atuei em universidades públicas e privadas (UFPI, UESP, etc.) e em todas as etapas da Educação Básica. Atualmente, sou professora municipal do Ensino Fundamental I em Itaquaquecetuba e professora do Ensino Superior, mediadora e orientadora de Projeto Integrador na Univesp.


2. Como surgiu sua relação com a Academia de Letras de Itaquaquecetuba, e de que forma recebeu o título de Madrinha da instituição? Qual o significado desse título para a senhora?

A Academia de Letras de Itaquaquecetuba (ALI) surgiu a partir de um grupo denominado Oficina de Escritores, idealizado e criado por mim durante a pandemia de Covid-19. Esse movimento coletivo propiciou resultados extraordinários, culminando na publicação de treze livros. Posteriormente, com o respaldo das Secretarias de Cultura e da Educação e a participação ativa de diversos escritores da cidade, foi então instituída a Academia de Letras de Itaquaquecetuba - ALI.

Já o título "madrinha" foi atribuído devido à minha impossibilidade de assumir a presidência da Academia de Letras de Itaquaquecetuba (ALI) por ser funcionária pública. Desse modo, minha irmã Inez, que acompanhou minha trajetória literária, sendo ela também escritora e promotora da cultura letrada, veio a ocupar essa posição fundamental, viabilizando assim a fundação da Academia. Esse título representa honra, responsabilidade e comprometimento com os valores da instituição.


3. A senhora é reconhecida por seu engajamento em diversas ações dentro da Academia. Quais projetos destaca como mais significativos e por quais razões?

 A Academia de Letras de Itaquaquecetuba (ALI) tem realizado grandes projetos mesmo neste pouco tempo de existência. Seus acadêmicos, através de Comissões e Conselhos, junto à Diretoria Executiva (DE), têm alcançado êxito em muitos projetos de grande relevância social e cultural. Isso não se pode atribuir apenas à presidência ou à madrinha da Academia, mas a uma estrutura hierárquica de cooperação, coordenada e alinhada estrategicamente para garantir que os objetivos primordiais da ALI, que consistem em fomentar e incentivar a leitura e a escrita, valorizem a Língua Portuguesa e a literatura brasileira. Os projetos com maiores divulgações sociais incluem o I CONCURSO DE POESIA (em andamento), Boteco Literário, Antologia "Sou da Paz" e a Coletânea "Minhas Palavras". No entanto, os projetos de maior significado, para mim, são os trabalhos intensivos nas escolas, nas ruas e nas feiras literárias apoiando novos escritores através de palestras, oficinas e publicações de livros, tanto para estudantes quanto para a sociedade em geral, cumprindo o papel social da nossa ALI.


4. Como escritora, quais foram seus primeiros passos na literatura? O que motivou o início de sua produção literária?

Como escritora meu primeiro passo foi em 2009 com uma obra religiosa "Mensagens Biblicas e Reflexões" com uma abordagem mais teológica e de orientação espiritual, não a considero literatura, já que lhe faltou a preocupação com a estética e estilo, mas foi um início. Já em 2014, como coordenadora de escola, pude realizar dois trabalhos literários com os estudantes de Ensino Fundamental e EJA, na oportunidade, promovemos o protagonismo na escola, a fluência leitora e produção textual potencializando o aprendizado. 

Apenas em 2021, período de pandemia, Covid-19 surge no cenário literário as minhas primeiras obras verdadeiramente, com o intuito de uma comunicação que transcendesse o tempo e o espaço, criando mundos imaginários e explorando temas e ideias. De fazer o leitor, num momento de tristeza, sentir profundamente as emoções e as experiências, transformar a dor em beleza e concretizar a escritora em poetisa, cronista e autora em vários gêneros de faixa etária diferentes: infantil, infantojuvenil e universal. Grandes lançamentos aconteceram na cidade, o primeiro no auditório da Universidade de Guarulhos- UNG e posteriormente, na BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO do Rio de Janeiro, oportunidade adquirida como cortesia, pelo livro ser considerado de qualidade para o público infantil, repetindo-se nos anos seguintes.

                     Momentos de autógrafos e lançamentos da escritora (Foto Divulgação)


5. Quais são os principais temas e gêneros abordados em suas obras? Poderia compartilhar brevemente sobre seus livros ou publicações mais relevantes?

Minhas obras se concentram em temas como: família, amor, diversidade, inclusão, valores, experiência de vida e outros assuntos sobre "background" pessoal.

Principais obras: 

- Liga da natureza - os elementos da natureza viram heróis e livram a Terra do COVID-19 

- Quem sou eu? - a fantasia o lúdico e o jogo de palavras para encantar a educação infantil Zeca o jogador N⁰ 1- o sonho de todo menino é se tornar um fenômeno do futebol, emoção e muita criatividade numa trama que canta e emociona 

- Meu amigo Dino - Desejado por toda criança a aventura de um dinossauro, uma relação de amizade e respeito a natureza Minha escola é show - experiências no ambiente escolar para vida. A escola que transforma, a literatura que encanta

- Porque sim! Por que não! - de uma sensibilidade ímpar o sonho e a esperança dos retirantes do nordestino em busca de melhoria de condições em São Paulo. A separação para viver uma nova experiência riqueza de diversidade linguística, cultural e social.

- A bicharada - a aliteração, palavra dentro de palavra, rimas, a fantasia e muita ludicidade. 

- As aventuras de Baby - um cachorrinho que viveu grandes aventuras através de um sonho para saber valorizar as relações familiares e respeitar as diferenças sociais. As crianças vão se divertir, emicionar e aprender a respeitar família, contextos e amigos.


6. De que maneira a fé cristã influencia sua escrita e sua atuação cultural e comunitária?

Escrevo vários gêneros, assuntos diferentes para públicos distintos e com propósitos diferentes, e cada um com recursos e linguagem apropriada. Isso faz com que o livro chegue nas mãos certas com maior aceitação. O escritor tem que ter foco e domínio do gênero o qual deseja discorrer. Minha fé e influência cristã me encoraja a produzir um repertório infantil e universal. Para as crianças, sou criadora do projeto "Pequenos Escritores " textos escritos a base de histórias biblicas de acordo com a linguagem de cada autor infantil. Treze livros já foram publicados, tendo a finalidade de reverter toda a verba para missões/obras sociais tanto locais como em estados do nordeste e até Moçambique/África. Minha participação se resume na colaboração, produção e divulgação dos livros, contando também com o apoio da igreja (Igreja Evangélica Pentecostal Nova Filadelfia), meu ministério. Esforço- me para que a apreciação de cada obra seja universal alcançando a todos.


7. A senhora acredita que é possível conciliar plenamente espiritualidade e produção artística? Em sua experiência, como esse equilíbrio é construído?

Sim, com certeza.  

A minha fé não é contraditória, assim como também minha produção artística, cultural ou social. Minha inspiração espiritual que é Deus, é a fonte de motivação das minhas produções quaisquer que sejam, pois leva-me a explorar temas de muitos gêneros abordados e a busca constante de significados. Com a arte expresso minha vivência e jornada, tenho a liberdade de criar e recriar conceitos em figuras de linguagens, ideias complexas e subjetivas. Isso pode ser tanto na literatura, na música ou em qualquer expressão artística. O meu equilíbrio está no respeito à diversidade, a busca sobre a condição humana e a visão de cada um por conexões significativas.


8. Como vê o papel das mulheres cristãs no meio literário contemporâneo, especialmente em ambientes acadêmicos e culturais?

A mulher cristã como qualquer outra, possui suas particularidades, modos diferentes de ver e analisar o mundo e isso faz parte dentro de muitas visões, conceitos, teorias e conjecturas. O que precisa é ter uma mente aberta, capaz de conviver com todos respeitosamente. O que se precisa adquirir neste mundo contemporâneo, dinâmico e global é o conhecimento, uma perspectiva única e original, perceber a beleza na natureza e na vida. O conhecimento e a sua aplicação de forma crítica e responsável diz-se respeito ao bem-estar e a sobrevivência do povo. O texto bíblico, em Oseias declara: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento ". Conhecimento esse que estende às leis de Deus e seus caminhos, como em sentido amplo, a compreensão e conhecimento em todas as áreas fundamentais para tomada de decisões. Os homens, na biblia, que proferiram sua fé pessoal, foram os que mais se dedicaram a prosseguir a conhecer: o Criador e outros assuntos; científicos, acadêmicos, culturais e linguísticos de sua época. Puderam trilhar os seus objetivos tendo o discernimento de suas convicções.


9. Em sua atuação como mulher cristã dentro de uma instituição literária e cultural, a senhora já enfrentou resistência ou preconceito por manifestar abertamente sua fé em ambientes acadêmicos e artísticos?

 Até o momento não sofri nenhuma resistência, mas isso não significa que estou imune a qualquer reação. O que tenho certeza é que nenhuma instituição de qualquer natureza, quer seja cultural, artístico ou científico mudará minha convicção de fé pessoal. O meu Deus é criador, o princípio e o fim; o alfa e o ômega. E se algum valor desagrega ou desabona o meu pensamento, com resistência, esse não me acrescenta e não serve para mim. O nosso Brasil é rico em diversidade cultural e religiosa e torno a repetir: para uma convivência pacífica e harmoniosa, o respeito é o limite. Ainda que o homem natural não compreende as coisas espirituais, por discernir espiritualmente, precisamos ter um culto racional. ( ref. Biblicas). Só se pode transformar a dor e a tristeza em arte e beleza se tivermos a sensibilidade de valorização e empatia. E nada é por "força ou violência " mas pelo amor infinito de Deus.


10. Há quem defenda que literatura e religião devem permanecer separadas para garantir a liberdade criativa e crítica. Como a senhora encara essa perspectiva, sendo uma escritora confessional?

Não vejo desse modo, temos muitos Best- Sellers que versou entre o religioso e a literatura como o autor Max Lucado, seus livros são cotados em pesquisas como os mais vendidos e lidos em vários idiomas. Sua temática cristã Evangélica aborda o amor infinito de Deus, a fé e a inspiração espiritual tem atraído muitas pessoas independente de suas crenças e dogmas. Minha vida é tranquila a esse respeito, expressar a condição humana e as experiências individuais e coletivas fazem parte da liberdade dos autores de diferentes culturas, épocas, ideias e emoções, isso tudo é o que compõe as muitas culturas que só o nosso país têm.


12. Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos novos escritores e às pessoas que acompanham o trabalho da Academia de Letras de Itaquaquecetuba?

Aos novos escritores, se quiseres criar um mundo imaginário e explorar temas e ideias independentemente do gênero, sem preconceito de qualquer natureza, procure a Academia de Letras de Itaquaquecetuba- ALI, pois estaremos prontos para ajudá-lo. Convido toda comunidade itaquaquecetubense e em geral para que possa nos seguir nas redes sociais e em nossas ações presenciais. Nossa visibilidade como protagonistas da cultura letrada tem só crescido. Nossos objetivos enclui você de todas as idades que busca entretenimento, conhecimento e muita diversão que promove transformação social, preservação do vernáculo, da cultura e a história de nosso povo.

                        Crianças alcançadas pela literatura (Foto Divulgação)





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